A relação agonista/antagonista é de extrema importância para estabilidade articular. Ela é preditora de lesões e nos ajuda à entender a necessidade de fortalecimento de um ou outro grupo muscular. No que diz respeito a relação entre rotadores externos (RE) / rotadores internos (RI) os músculos do manguito rotador garantem a centralização dinâmica da cabeça do úmero, fundamental principalmente para prática de esportes. Por isso, é importante haver um equilíbrio entre os músculos RI/RE.
Para cálculo da relação agonista/antagonista de ombro (RE/RI), faz-se a divisão numérica da força ou torque de um pelo outro, por exemplo:
RE: 8Kgf
RI: 12Kgf
Relação RE/RI: 0,66.
Ok, mas qual a relação RE/RI ideal?
Bom, daí precisamos nos aprofundar um pouco no tema e trazer à tona algumas publicações para que possamos entender. Mais precisamente, vou trazer aqui 5 artigos sobre relação agonista/antagonista de ombro que inclusive você poderá conferir no nesse blogpost. Caso queira, você pode também saber mais sobre relação isquiotibial/quadríceps nessa outra publicação. Vamos lá!
O primeiro artigo: External to Internal Glenoumeral strength Ratio in Non-Traumatic Rotator Cuff Pathologies.
Primeiramente, nesse estudo foi feita a avaliação da relação agonista/antagonista em indivíduos com lesões em ombro. Foram divididos em 3 grupos, de acordo com o tipo de lesão*:
- Bursite
- Tendinopatia em manguito
- Ruptura em manguito (total ou parcial)
Classificaram o tipo de lesão por meio de exame físico, ultrassonografia e ressonância magnética. Assim, excluíram-se indivíduos com lesões bilaterais ou que apresentavam mais de um achado radiológico. Utilizaram um dinamômetro manual isométrico para medir a força.
Posicionamento:
- Paciente em pé, com o braço ao lado do corpo.
- Rotação Interna: ombro neutro e antebraço com 90 graus de flexão
- Rotação Externa: ombro neutro, antebraço 90 graus e uma rotação medial de 45 graus
*a posição de rotação externa difere um pouco da interna, importante.
Em seguida, vocês podem ver os resultados na tabela:
Dessa maneira, é possível notar que os valores da relação RE/RI são bem próximos independentemente do tipo de lesão e, quando comparados com o lado assintomático, também não apresentaram valores significativos de diferença (p>0.05).
Por fim, a conclusão do estudo é exatamente essa. A relação entre rotação externa (RE) e rotação interna (RI) parece ser semelhante entre o ombro afetado e o ombro não afetado em indivíduos que apresentam lesões não traumáticas do manguito rotador.
Logo, isso levanta uma dúvida: e em outras populações? A relação se mantém entre 0,86 e 0,98?
Segue o fio…
O segundo artigo: Eccentric and Isometric Shoulder Rotator Cuff Strength Testing Using a Hand‑held Dynamometer: Reference Values for Overhead Athletes.
Um estudo com atletas Overhead (handebol, tenis e vôlei – n101) fez um valor também esperado de relação RE/RI em duas posições:
90-0 = 90 de abdução e neutro de rotação
90-90 = 90 de abdução e 90 de rotação lateral
*pacientes sentados, provavelmente para comparar com dinamometria isocinética.
Olhem os valores:
Na tabela, os valores são 0.89 para o membro dominante e 0.93 para o não dominante quando em rotação neutra, e de 0.59 e 0.69, respectivamente, quando em 90 graus de rotação externa. Isso faz sentido, certo? Quando o paciente parte de uma rotação externa, a relação diminui, pois o número que está no numerador (RE) diminui em comparação ao denominador (RI), que possui uma melhor alavanca para o movimento. Contudo, quando ambos são medidos em posição neutra de rotação, os valores se aproximam de 1.00 (100%), indicando quase a mesma força (por exemplo: 12/12 = 1).
Então, bora para o terceiro.
O terceiro artigo: The Changes in Shoulder Rotation Strength Ratio for Various Shoulder Positions and Speeds in the Scapular Plane Between Baseball Players and Non-players
Utilizou-se um dinamômetro isocinético com atletas de Baseball (20 atletas e 19 não atletas), adotando um conceito de avaliação um pouco diferente da isometria. Portanto, vamos utilizar como base a velocidade de avaliação de 60º por segundo, à 90 graus de abdução (para comparar com os outros trabalhos):
RE/RI de não jogadores = 0.86
RE/RI de jogadores = 0.71
Uma informação interessante desse estudo é que a análise realizou a relação em vários graus de abdução de ombro, e o pico se apresentou em 70 graus de abdução. Portanto, podemos assumir que essa é a angulação estimada de pico de torque.
Por fim, note que a relação RE/RI de jogadores é menor. Muito provavelmente pela especificidade do esporte que favorece em muito os rotadores mediais desses atletas. Interessante, não?
O quarto artigo: Is the Normal Shoulder Rotation Strength Ratio Altered in Elite Swimmers
Já esse artigo foi, com nadadores adultos. Foi utilizado um dinamômetro manual isométrico (como o SP TECH). O posicionamento foi com indivíduo em pé, cotovelo à 90 graus, posição neutra de rotação da glenoumeral:
- Lado dominante masculino = 0.68
- Lado não dominante masculino = 0.73
- Média entre eles = 0.70
- Lado dominante feminino = 0.68
- Lado não dominante feminino = 0.76
- Média entre eles = 0.71
Sem diferença por sentir dor ou não. Desse modo, mais uma vez o favorecimento dos rotadores mediais.
E, por último…
O quinto artigo: Isometric Shoulder Strength in Young Swimmers
Por sua vez, esse foi feito com nadadores jovens. Pacientes em decúbito dorsal, 90º de abdução, neutro em rotação.
- Lado dominante masculino = 0.85
- Lado não dominante masculino = 0.84
- Lado dominante feminino = 0.91
- Lado não dominante feminino = 0.91
Sendo assim, uma relação maior que a anterior, talvez influenciada pelo posicionamento ou pelo tempo como atleta (possíveis adaptações a longo prazo, quem sabe).
Bom, e o que podemos concluir sobre a relação agonista/antagonista de ombro então?
- A relação tende à ser próxima de 0.80-0.90 em indivíduos não treinados, em posição de 90 graus de abdução e neutro de rotação da glenoumeral;
- Esporte faz diferença. Dependendo da atividade, acaba afetando, como é possível notar no artigo de baseball (maior força de rotação interna);
- Pico de torque de rotadores se dá próximo à 70 graus de abdução.
Como falado anteriormente, isso é uma análise com poucos artigos (quase uma opinião), mas é algo que pretendo levar para a minha prática clínica.
Em resumo, a compreensão da relação entre rotadores internos e externos é essencial para profissionais de saúde. Portanto, identificar desequilíbrios precocemente permite intervenções direcionadas, prevenindo lesões. Dessa forma, aplicar esse conhecimento na prática reflete o compromisso com cuidados de qualidade e individualizados. Além disso, este entendimento contribui para uma abordagem mais eficaz na promoção da saúde musculoesquelética, demonstrando o compromisso dos profissionais com o bem-estar dos pacientes.
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