Skip to main content

Lewis Carroll, ao escrever “Alice no País das Maravilhas”, eternizou a frase: “Para quem não sabe para aonde vai, qualquer caminho serve.” e ela se aplica muito bem ao tema dinamometria isométrica.

Com o advento da tecnologia e a constante busca por embasamento científico nas abordagens em saúde (PBE), métricas objetivas de avaliação e acompanhamento acabam se tornando imperativas. Certamente, na chamada saúde 4.0, não há mais espaço para subjetividade e empirismo (por si só).

Todas as áreas de conhecimento têm evoluído para uma cultura de coleta de dados, de informações relevantes, que levem à conhecimento que possa ajudar na tomada de decisão (Data Driven Culture). Na saúde não é diferente. Então precisamos estar preparados para essa transformação digital.

“Se você não pode medir, você não pode gerenciar.”, “O que pode ser medido, pode ser melhorado.” – Peter Drucker.

Assim, vamos à um exemplo:

Uma das métricas mais importantes de retorno ao esporte de um atleta de alto rendimento pós reconstrução do ligamento cruzado anterior (RLCA) é uma simetria de força bilateral de quadríceps acima de 90% ou assimetria abaixo de 10% (Grindem, et al. 2016). Então, como podemos ter certeza sem quantificar de alguma forma? É uma questão de segurança para todos os envolvidos: o profissional responsável, o clube (caso seja o caso), e principalmente, o cliente.

Além disso, existem também estudos que preconizam simetria e boas relações entre músculos agonistas e antagonistas para prevenção de lesões ortopédicas dos mais variados tipos (Kong P & Burns S, 2010).

Assim sendo, é fundamental avaliar quantitativamente a força muscular e, dentro desse contexto, a dinamometria manual isométrica é uma excelente opção.

Porém, para que possamos nos aprofundar no tema, precisamos relembrar alguns conceitos básicos.

O que é força?

Não há uma definição única e precisa. Mas, podemos caracterizá-la como uma grandeza vetorial – possui módulo, direção e sentido que é capaz de, ou tende à, gerar alterações de movimento de um corpo. Logo, força muscular é a capacidade que o músculo tem de gerar essas alterações, podendo ser descrita da seguinte forma:

“Força muscular é a capacidade de exercer tensão muscular contra uma resistência, envolvendo fatores fisiológicos, mecânicos e psicológicos, superando, sustentando ou cedendo à mesma ” (Barbanti, 1979).

Por necessitar de um “módulo”, ela deve ser descrita por uma unidade de medida. Portanto, no Sistema Internacional de unidades é utilizado o quilograma-força (kgf) ou, comumente, Newtons (N).

Tipos de força muscular

  • Força Máxima: é a maior força que o sistema neuromuscular pode mobilizar através de uma contração máxima voluntária, ocorrendo (dinâmica) ou não (estática) movimento articular (Weineck, 1999; Platonov & Bulatova, 1998).
  • Potência Muscular: é definida como a força produzida na unidade de tempo (Zatsiorsky, 1999; Badillo & Ayestaran,2001).
  • Resistência Muscular Localizada: é a capacidade do sistema neuromuscular sustentar níveis de força moderado por intervalos de tempo prolongado (Weineck, 1999; Platonoy & Bulatova, 1998; Guedes, 1997).

Avaliação de Força Muscular: quais as opções?

Podemos realizar a avaliação de força muscular de algumas formas: Prova de Função Muscular, 1 Repetição Máxima, Dinamometria Isométrica ou Dinamometria Isocinética.

Sugerimos dar uma olhada nesse link, descrevemos cada uma delas e suas aplicações por lá:

Entretanto, vamos ao tema principal desse blog, a avaliação de força por equipamentos isométricos, a famosa “Hand Held Dynamometry”.

Dinamometria Isométrica

Dinamômetros manuais isométricos aparecem em publicações acadêmicas desde o final da década de 40. São equipamentos portáteis, munidos de uma célula de carga, que tem a capacidade de avaliar a carga imposta sobre o sensor através da deformação do material (strain gauge). Existem diversos modelos e formatos, mas todos se baseiam no mesmo princípio físico. Diferentes modelos acabam conferindo características específicas aos produtos, sendo a maior diferença ser um equipamento que funciona por “compressão” ou por “tração”.

Os “Hand Held Dynanometers” (HHD) são equipamentos que funcionam por compressão. Podem ser usados com as mãos (Hand Held), sendo os mais comumente utilizados em publicações acadêmicas. Abaixo, você pode acessar a nossa base de artigos utilizada para construção desse e-book. Confira alguns exemplos de revisões sistemáticas, ensaios aleatorizados controlados e outras publicações sobre o tema:

Dinamometria isométrica: validação e confiabilidade

Revisões sistemáticas de literatura como a de Chamorro et al (2017) e Stark (2011) concluem que os dinamômetros manuais isométricos (HHDs) são confiáveis, fáceis de usar, compactos e acessíveis (custo de aquisição). Também, quando comparados com dinamômetros isocinéticos, possuem de boa à excelente validação concorrente. Artigos como de Almeida et al (2017), compararam dinamômetros manuais isométricos com isocinéticos para avaliação de torque articular em pacientes em fase final de reabilitação de lesão ligamentar em joelho (LCA), concluindo que o HHD é válido para aquisição de dados relacionado à força e torque nessa população. Porém, os HHDs não substituem por completo a avaliação isocinética, já que não fornecem os mesmos dados como curva de torque (em toda a amplitude de movimento), potência, força excêntrica. Porém, em ambiente clínico, fornecem as métricas necessárias para acompanhamento dos clientes.

Compressão versus tração

Como vimos, o método por compressão foi extensivamente estudado e já validado. Porém, uma dúvida comum é: a força do avaliador pode influenciar a medida? A resposta é não e vamos nos aprofundar um pouco no motivo.

“A toda ação corresponde uma reação, de mesmo módulo, mesma direção e de sentidos opostos.” – Newton, terceira lei.

Um princípio básico da física. Caso uma força esteja sendo aplicada em uma direção e não há movimento, há uma força de mesmo módulo (valor) mesma direção, porém em sentido oposto vindo do objeto. Logo, falando em dinamometria isométrica, podemos traduzir no seguinte: caso não haja movimento articular durante o processo avaliativo, o teste será válido pelo mesmo princípio (ação e reação).

Vamos à um exemplo:

No estudo abaixo com o título “Assessment of Isometric Knee Flexor Strength Using Hand-Held Dynamometry in High-Level Rugby Players Is Intertester Reliable”, os autores avaliaram a reprodutibilidade de duas formas de posicionamento. Além do uso ou não de fixação para avaliação de flexores de joelho em atletas de Rugby.

O resultado: ambos os posicionamentos são reprodutíveis independente do uso de fixação, note os valores na tabela abaixo com e sem cinta de estabilização.

Esse é apenas um exemplo de dinamometria isométrica, no link apresentado anteriormente você conseguirá acesso à outras publicações com o mesmo desfecho.

Bom, e quando há movimento?

Nesse caso, é necessário que seja utilizado um aparato de fixação externo. Grandes grupos musculares como o quadríceps são capazes de gerar picos consideráveis de força/torque, o uso das mãos para estabilizar pode não ser o suficiente. Para isso, o uso de cintas ou outros dispositivos é aconselhado. Portanto, no caso específico do SP Tech, é enviada uma cinta resistente para esse tipo de situação. A aplicação é simples e resolve o “problema”, como você pode conferir nas seguintes publicações:

Existem também posicionamentos que só são possíveis de serem realizados com dinamômetros compressivos, como o HipSit, validado por Almeida et al. (2017) para avaliação de complexo póstero lateral de quadril (extensores, abdutores e rotadores externos) em um único teste. Veja a imagem à seguir:

Então, veja que a gama de posicionamento e opções é extensa. Caso queira, você pode utilizar os posicionamentos descritos nos Testes de Função Muscular (Kendall), utilizando o equipamento como interface entre você (avaliador) e o cliente.

Quais as métricas possíveis?

Com um dinamômetro manual isométrico, podemos avaliar: força isométrica máxima, pico de torque articular, simetrias e assimetrias, relações agonista/antagonistas (incluindo relação IQ) e também a carga máxima (1RM) através de uma fórmula de predição. Vamos falar sobre essas métricas em tópicos seguintes.

Por uma questão de legibilidade, vamos interromper esse blog por aqui. Portanto, para que você possa continuar se aprofundando com o tema, veja nossos próximos posts!

Quer saber mais sobre o nosso SP Tech? Confira um pouco da história do nosso equipamento e veja como ele funciona.

Você pode também entrar em contato conosco diretamente pelo WhatsAPP!

Até mais.

Luis Perdona

Sócio fundador da Medeor, fisioterapeuta e idealizador do SP Tech: dinamômetro e algômetro de pressão. Buscando aprender sobre tecnologia, mantendo por essência o foco na saúde.

3 Comments

Leave a Reply